terça-feira, 8 de julho de 2014

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É, este gif resume bem a superderrota do Brasil
Chega um momento na vida em que devemos parar, pensar e refletir sobre nossos atos. Sejam eles bons ou ruins, já se sabe: irá ecoar ali na frente. Talvez cedo ou mais tarde, deve-se pensar sobre qual o verdadeiro objetivo do que se busca na vida, ou no momento, e concentrar-se nesta meta. Caso contrário, os resultados podem ser desastrosos.
O Brasil, hoje, vive um dia atípico. Talvez, daqui a vários anos, quando alguém vier a admirar este texto, perceberá que houve uma época em que sofremos a maior derrota de nossa história futebolística, e foi neste oito de julho. Atrás, ficou um passado; o futuro, a partir de agora, ninguém pode imaginar.
Não é todo dia que se sofre uma humilhação como a da Seleção Brasileira, frente à Alemanha, em plena semifinal da Copa do Mundo de 2014. Mais fantástico, se não fosse trágico ao extremo, é imaginar que o Mundial é disputado em solo brasileiro, em estádios construídos para abrigar, em sua maioria, a torcida brasileira, de uma maneira que somente nós conseguimos expressar. A super-goleada de 7x1 a favor dos europeus chama a atenção para problemas que talvez não notássemos antes, ou fingíamos que não queríamos ver.
O futebol mudou bastante nas últimas décadas. Mesmo levando em consideração que o Brasil venceu praticamente uma Copa por década, desde 1950, exceto nos anos 80 (mas quase, pois houve a fatídica Tragédia do Sarriá, em 1982), há de se considerar que o país (1) consegue se adaptar bem às mudanças que o esporte exige, de certa forma, e (2) o Brasil geralmente ganha devido ao peso da camisa que tem, e só.
Veja bem, surgirão unidades de explicações para este placar tão bizarro quanto verdadeiro, ao raiar dos próximos dias, semanas e meses. Excesso de experiência, excesso maior ainda de inexperiência, treinos inexistentes próximos a decisões, declínio técnico de jogadores que não sabem posicionar-se em campo, olhar um jogador em condições, chutar uma bola, confiança exagerada do treinador, espírito de equipe alemão, ausência de peças importantes na nossa equipe, enfim. Não dá. Nada justifica.
O gif acima ilustra bem o que aconteceu, quando ainda estava sete a zero para os alemães: não havia espaço no placar oficial para tantos gols, e ele teve de subir mais um pouco a cada frame para exibir na tela nossos mais novos carrascos.
Claro que estou tão chateado, acuado, como todos os que gostam do futebol, do futebol da Seleção Brasileira, que nos ensinou e inspirou a jogar. E o motivo é simples: o país não esquecerá este momento, jamais. Porque hoje, o Brasil deixou de ser Brasil.

ATUALIZAÇÃO - 09/07: Alguma alma caridosa colocou o vídeo do scroll. Nem por isso deixa de ser chocante.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

As duas rodas pedem passagem


Na busca por novos espaços para transitar nas cidades, os ciclistas buscam meios mais práticos para driblar os congestionamentos e melhorar a qualidade de vida.

Mais espaços públicos para ciclistas e melhoria dos já existentes. Estas são as principais reivindicações da população do Vale do Sinos, consciente de que muito ainda pode ser feito pelo poder público e pelos próprios moradores para garantir maior qualidade de vida aos praticantes desta atividade. O marceneiro Darlei Fröhlich, 38, morador de Dois Irmãos, é um exemplo. “Preciso ir a Sapiranga para praticar o ciclismo”, afirma. Ele, que nas horas vagas participa de um grupo de ciclistas profissionais, com sede na Cidade das Rosas, tem opinião favorável aos espaços disponíveis. “A ciclovia daqui é boa, mas penso que pode melhorar ainda mais”.


Fröhlich: “ciclovia é boa, mas pode melhorar ainda mais” (foto: Arquivo pessoal)

Em Sapiranga, também conhecida regionalmente como Cidade das Bicicletas, devido à grande proporção entre o número de habitantes e o de ciclistas em geral, nem todas as opiniões são unânimes. “De modo geral, os motoristas respeitam pouco os ciclistas”, relata o comerciante Aírton Paiva, o Nico, 44. Proprietário de uma loja que vende artigos para a prática do ciclismo na principal avenida do município, ele defende que deve haver conscientização por parte dos usuários de meios de transporte em geral. “Acho que eles [os ciclistas] também devem ter respeito no convívio com outros meios”, diz, enquanto observa a ciclovia inaugurada há dez anos, e que possui um trecho em frente a seu estabelecimento.

Para a administração municipal de Sapiranga, o apelido recebido pela cidade é motivo de orgulho, apesar da diminuição no número de ciclistas nos últimos anos. “Ser reconhecida como Cidade das Bicicletas é algo valioso, mesmo que atualmente a quantidade de bicicletas tenha mudado. Estamos trabalhando formas de voltar a incentivar o uso delas; com isso, o trânsito pode fluir melhor”, explica o Secretário Municipal de Segurança Pública e Mobilidade Urbana, Delso Ivan Civa. Ele também exalta o fato de haver estatísticas sobre o número de bicicletas em Sapiranga, algo incomum para outras cidades. “São cerca de trinta mil”, afirma, categórico. Para uma população de cerca de 78 mil habitantes, segundo estimativas do IBGE para 2013, é um número bastante considerável.

A questão também preocupa outras cidades da região. Em Novo Hamburgo, maior município do Vale do Sinos, recentemente a inauguração de uma ciclofaixa pública, por parte da Prefeitura, com 4 quilômetros e meio de extensão, ligando a Zona Sul ao Centro, foi resposta a uma solicitação antiga dos moradores. O espaço é comemorado por alguns. “Utilizo bastante a bicicleta para lazer e também para me deslocar ao trabalho. Pena que não há ciclovias em outros bairros também, pois já sofri um acidente onde não havia este tipo de opção para os ciclistas”, conta o impressor serigráfico Carlos Morais, 55 anos, morador da cidade há pelo menos trinta e cinco.


Morais: acidente trouxe preocupação para o impressor (foto: arquivo pessoal)

Para outros profissionais do trânsito, que diariamente convivem com bicicletas e demais veículos, a maior preocupação é a imprudência nas ruas e avenidas, mas pode haver um convívio saudável entre motor e pedal. “As ciclovias aumentam a segurança dos próprios motoristas”, relata o taxista Gilmar Celistre, 43, há quatro anos na função. Ele reforça que a responsabilidade por desastres pode ser tanto de uns quanto de outros. “Quase não se houve mais falar em acidentes envolvendo ciclistas e motoristas, mas, quando ocorrem, geralmente é devido ao descuido de uma das partes”, destaca.

De acordo com a diretora da DITRAN (Diretoria de Trânsito), Regina Soares, as obras da ciclovia da Av. Nações Unidas fazem parte do conjunto de melhorias trazidas com a vinda do trem ao município. Para ela, houve apoio de diversos órgãos na obra. “A construção da ciclovia faz parte de uma série de obras complementares da expansão da Linha 1 do Trensurb, solicitadas pela Prefeitura com o apoio do Governo Federal”, diz. Sobre a aceitação por parte da população, ela destaca que há acúmulo de pessoas a pé também no local, o que não é o recomendado. “[A ciclovia] acaba sendo usada de forma mista, por ciclistas e pedestres, devido à maior parte da população não ter o hábito de praticar o ciclismo”. Também estão na pauta novos projetos. “Estão previstas a construção de duas novas ciclovias, uma ligando o bairro Hamburgo Velho ao Centro, com cerca de 1300 metros de extensão, e outra na Avenida Alcântara, no bairro Canudos, de 1900 metros”.

Enquanto isso, a população aproveita o espaço disponível. “Para mim, a ciclovia diminui o risco de acidentes e atropelamentos”, completa Carlos.


Celistre: descuido de uma das partes é principal causa de acidentes (foto: Arquivo pessoal)

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(Pauta realizada em abril e maio de 2014 para a disciplina de Jornalismo da Universidade Feevale.)

ATUALIZAÇÃO - 05/01/2015- : Esta pauta concorre no 2º Prêmio Mentes Brilhantes, da Universidade Feevale, na categoria Reportagem - Impressa ou Digital. Em março sai o resultado.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Orkut, o fim

Levantei-me da cadeira, confesso, quando fiquei sabendo. Sentei de novo. Fazia tempo, bastante tempo até. Meu último contato com o Orkut foi em janeiro, quando da ocasião da postagem que justamente celebrava os dez anos de nascimento da ferramenta que trouxe o conceito de redes sociais para o Brasil. Mas desta vez, a ocasião é outra. E bem mais confusa.
O Orkut, claro, revolucionou. Com ele, você que tem contato com a internet há mais de cinco anos certamente jogou, leu, escreveu depoimentos, scraps, criou seu avatar no BuddyPoke, enfim, contribuiu para esta massa de ideias e sentimentos que dominou o país, e só. Em nenhum outro lugar o donut rosa provocou tanta paixão.
Dava pra imaginar a web sem o Orkut? Sim, claro que dava. Mas provavelmente muitos tiveram seu primeiro contato com a interwebs lá, e sem rodeios. Lembro da época em que tinha cerca de doze anos e o sonho de consumo era ele. Aquele site, onde só com convite entrava. Como uma festa 212 VIP, exatamente para poucos, privilegiados.
Como qualquer festa para adolescentes, tem uma hora em que o DJ procura variar os ritmos, alcançar um tom nostálgico, agradar a todos igualmente. O Orkut cresceu, multiplicou-se, liberou inscrições sem a necessidade do ingresso antecipado, visou o Brasil numa época em que smartphones ainda era para poucos, iPhone então, talvez nem existisse. Na proa da revolução digital, de certa forma a inovação. Justifica-se, até hoje há certo fascínio em redes sociais ou serviços em que é necessária pré-inscrição (obrigado por lembrar neste momento do Google Glass).
Tá, mas se o Orkut era bom, por que era bom? Justamente, cansou. Mas tenho algumas ideias:

Cessou a inovação: pioneiro da criação e manutenção de comunidades, que de certa forma davam aquele ar de superioridade ao arrendatário (muitas comus eram mantidas pelo perfil <nome da comu> Oficial), além de liberdade de censurar ou não opiniões, recados individuais e até pirataria controlada (já falei do Discografias no outro post), o Orkut simplesmente parou de receber ideias por parte de seus desenvolvedores. Sem um canal oficial de atendimento ao usuário - como quase tudo no Google -, ficava difícil saber o que o orkuteiro gostaria de ver na rede social.

Concorrência acirrada: lembre-se que, de tão inovador, o Facebook já virou livro, filme e ação na Nasdaq. A grande sacada foi fazer sucesso no mundo inteiro, e, por isso mesmo, começar a ter moral aqui depois.

O mobile é seu inimigo: deve ter sido isso que o Google pensou. O Orkut no celular nunca daria certo, e não deu mesmo. Quem afirmam são os usuários do app oficial para Android (Atualização: ex-app. Ele já foi retirado da Play Store, então, o link anterior é o do Web Archive), e dá pra entender o tamanho do público que NÃO foi atingido com isto.

Perda de espaço para novas ferramentas: como o Google+, que passou a ter toda a atenção e o mínimo de usuários ativos.

As causas são variadas, mas agora já não há solução. O Orkut virou estorvo para o Google, e para a internet em si. O blog dele, inativo desde 2012, voltou a ser utilizado. Para enterrar o já falecido, talvez. Para liberar espaço nos servidores em Mountain View, ou em Belo Horizonte. Ou então, somente para deletar nossas lembranças por lá.

domingo, 29 de junho de 2014

Ué, por que o blog está diferente?

Pois é, não foi só você que notou. Desde a última semana, o Revista O Mate está com postagens mais elaboradas, e mais frequentes até - tudo bem, duas em sete dias, mas é algo a ser considerado. Só que tem um motivo.
O blog será a partir de agora também um portfólio online. Praticamente obrigatório para todo candidato a jornalista que estiver se graduando na profissão, a ferramenta é útil tanto para divulgar a própria escrita quanto para avaliação; até por isso, a formatação dos posts está diferente.
E, como você já deve ter percebido, estou cursando a graduação em Jornalismo na Universidade Feevale, aqui na minha cidade, Novo Hamburgo, RS. Por conta disto, tanto a postagem sobre a Fan Fest em Porto Alegre quanto a entrevista com o jornalista André Haar, foram tarefas exigidas pelo curso, por disciplinas específicas. Nada muito artificial, o blog sempre vai estar à disposição para emendas pessoais também. Mas algumas dúvidas podem surgir neste processo.

Por que não criar um blog só para o curso?
Não era necessário. Primeiro, porque poderia ser utilizado um blog já existente, além disto, tem o fator legado a ser levado em consideração.

Como assim, "fator legado"?
Leia aqui para mais detalhes. De preferência com atenção.

Por que o post do André Haar ficou com formatação diferente dos outros?
Fiz o documento no Google Docs. Quando colei aqui, ele ficou com esta formatação mesmo. Como tinha data para entregar o post, e ela estava se esgotando, deixei mais ou menos como estava.

Seus colegas fizeram blogs também?
Sim, e a lista deles está aqui. Mas talvez você só vai conseguir visualizar se for aceito por um dos admins do grupo :)

A cara do blog vai mudar?
Não, por dois motivos. O primeiro é que não sou administrador do Revista O Mate, só o Felipe era. Tenho permissão apenas para criar, editar e remover posts. O segundo é que acho que está bom assim, com uma cara limpa e, principalmente, sem muitos gadgets nas laterais.

E é isto. Embora o blog em si mude, só vai alterar um pouco o estilo de postagens, tornando-se mais técnico. É necessário, e aposto que será melhor para ler, curtir e levar a sério o que se escreve aqui.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Entrevista: André Haar

André Haar: jornalista fala aos alunos da Universidade Feevale (Foto: Divulgação - Eduarda Neves/Facebook)

Poucos nomes são tão respeitados no cenário jornalístico do Rio Grande do Sul como o do porto-alegrense André Haar. Atualmente com 44 anos, iniciou a carreira na Rodoviária de São Leopoldo, de onde veiculava informações diariamente sobre as partidas dos ônibus. Sua ambição levou-o a migrar para a Rádio União FM, após divulgar informações inéditas sobre um desaparecimento ocorrido na Serra Gaúcha, e o qual ele conduziu uma investigação independente.
Mas Haar não estava satisfeito. O ápice de seu trabalho ocorreu na televisão, onde iniciou em 1991, no extinto Jornal do Rio Grande, pela TV Bandeirantes. Passou ainda por Canal Rural, RBS TV - onde foi o âncora do Jornal do Almoço e RBS Notícias - e TV Record, onde está desde 2007. No momento, apresenta o telejornal Rio Grande no Ar, nas manhãs no canal 2 de Porto Alegre.
Graduado em Jornalismo pela Feevale, e vivendo há trinta anos em Novo Hamburgo, Haar retornou nesta quinta-feira à sala de aula da mesma universidade, mas desta vez para uma conversa informal com este blog. Confira:


Como é lidar com a emoção no jornalismo?
Costumo dizer que tenho grande carga de adrenalina. Já enfrentei situações em que tive de cobrir tragédias, como em Santa Maria [em 2013, o incêndio na Boate Kiss] e o Caso Bernardo [Bernardo Boldrini, de 11 anos, foi morto e enterrado no interior do Rio Grande do Sul, em abril de 2014. O pai e a madrasta são os principais suspeitos do crime], mas lido bem com a situação. Fiquei com os olhos cheios d’água em algumas situações, mas só.


E com as críticas ao seu trabalho?
Meu trabalho é diário, ou seja, preciso ser a voz da sociedade no momento em que sou exigido; as críticas fazem parte do processo. Claro que muitas vezes erro, mas, no fundo, me dói um pouco, mesmo que às vezes não as aceitamos.


Como você define o estilo de jornalismo de seu programa?
Meu jornal é apresentado no horário do café da manhã, num horário em que as pessoas, muitas vezes, ligam a televisão mas estão prestando atenção em outras atividades em casa. Procuro manter o foco nas manchetes das notícias, pois, com uma manchete bem elaborada, por vezes a atenção do telespectador pode ser direcionada.


Como o índice de audiência influencia seu trabalho?
A audiência é muito importante, medimos a todo momento durante o jornal. Por várias vezes empatamos, ou até ultrapassamos a RBS TV no mesmo horário. Se alguma notícia que estou apresentando faz o IBOPE subir, sou orientado pelo editor-chefe, no ponto eletrônico, a realizar comentários sobre ela no ar.

Qual foi o momento mais marcante de sua carreira, na sua opinião?
Sem dúvida quando eu estava em Jerusalém, um dia após os atentados de onze de setembro de 2001. Viajei a serviço da RBS TV, e acompanhava uma excursão de prefeitos do Vale do Sinos, em visita a Israel. Liguei para minha editora-chefe e disse que havia feito umas imagens de manifestações na região e coletado algumas entrevistas, mas achei que não seria nada importante. Depois de dez minutos, ela me ligou de volta, e perguntou se eu havia levado terno e gravata, que eu faria uma pauta para o Jornal Nacional. Foi algo extremamente marcante para mim, pois sempre sonhei em apresentá-lo.


Quais são suas referências jornalísticas?
Sempre admirei muito o trabalho do Cid Moreira e do Sérgio Chapelin, por eles serem justamente âncoras do Jornal Nacional [de 1972 até 1983]. Quando conheci-os na Globo, em São Paulo, foi para mim um grande momento.


Você se considera melhor repórter ou apresentador?
Não sou repórter, não gosto de fazer reportagens. Gosto de apresentar as notícias.


Quais as principais diferenças em relação ao jornalismo praticado pela Record e pela RBS?
A principal diferença é que, na Record, há mais informalidade, deslizes podem ser retificados mais tarde. Na RBS, gafes são menos toleradas.


Você tem algum recado para os futuros jornalistas?
Acredito que as pessoas vencem na vida não por sorte, mas sim por competência própria. Indivíduos que não pensam assim costumam ter o hábito da idealização, que é a criação de um objetivo na vida a partir das expectativas dos outros. Por exemplo, quando seus pais afirmam que você irá se graduar naquilo que eles querem, e não se baseiam em suas opiniões pessoais.
Muitos estudantes ingressam na faculdade de Jornalismo para tentarem ser famosos, ou conseguir fama e sucesso. Meu recado é: se você imagina desta forma, é melhor nem tentar a graduação.


Você é feliz fazendo o que faz?
Sim, sou muito feliz, o jornalismo é minha vida. Sempre quis fazer o que faço hoje.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Aqui fora, a festa é a mesma

É um dia frio. A brisa sopra leve do Rio Guaíba, logo ao lado, mas não tira a angústia de torcedores que, empunhando bandeiras, camisas e rostos pintados, observam o grande telão. Na imagem, uma partida entre duas seleções, que estão jogando ali próximo, no Estádio Beira-Rio, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Aos poucos, o sol vai dando lugar à escuridão, as camisas são escondidas pelas blusas mais pesadas, a agonia é substituída pela emoção - ou frustração, dependendo do lado em que você está. Seja bem-vindo à FIFA Fan Fest.
Criada em 2002 pela entidade que organiza os Mundiais de futebol, e ocorrendo a cada quatro anos na mesma sede da competição entre seleções, o evento gratuito destina-se a acolher a grande maioria de turistas que quer viver o clima da Copa, mas não conseguiu ingressos para adentrar à arena do espetáculo. Aqui, do lado de fora, a festa não dura somente os noventa minutos da partida, mas dias inteiros.
Fui a um destes eventos em uma ocasião ainda mais especial para muitos dos visitantes. A partida entre Argélia x Coreia do Sul ocorreria naquele dia, e poderia ser a oportunidade de ver como a paixão pela equipe poderia superar as fronteiras oceânicas. Argelinos cruzaram meio mundo para chegar a Porto Alegre; coreanos, um planeta inteiro. Nada poderia tirar a fantástica sensação de estar em um lugar totalmente novo, com uma cultura diferenciada - se para brasileiros o Rio Grande do Sul já é território desconhecido, o que dirão os estrangeiros.
Grata surpresa quando chego: um trio elétrico com torcedores argelinos na subida da avenida Borges de Medeiros, para quem sai do Mercado Público em direção ao Centro Administrativo, em uma trilha urbana de cerca de dois quilômetros, bem sinalizada, intitulada propositalmente "Caminho do Gol". Músicas em árabe dão o tom da festa, mas chama a atenção a quantidade de câmeras apontadas para os torcedores, dada a dimensão e a espontaneidade do evento.

Festa argelina em Porto Alegre: praticamente em casa (Reprodução/Facebook)

À medida em que me aproximo do Anfiteatro Pôr-do-Sol, novas manifestações ocorrem, mas dando a entender que os africanos do norte estão mais confiantes no resultado da partida do que os leste-asiáticos, mesmo que, até ali, ambas as seleções necessitavam da vitória para continuar sonhando com uma vaga na próxima fase. A Argélia havia perdido o primeiro jogo para a Bélgica; a Coreia do Sul empatara com os russos.
Na Fan Fest, tudo é clima de festa, realmente. Torcedores com bandeiras da Bélgica, Austrália, Rússia, México dividiam espaço com as duas seleções a se enfrentarem no Beira-Rio, e é claro, com muitos brasileiros e... argentinos. Dezenas deles. A Argentina é a próxima equipe a jogar em Porto Alegre, contra a Nigéria. Duzentos mil hermanos são esperados para esta partida, somente na capital gaúcha.
Chega próximo das dezesseis horas e a maioria dos argelinos e sul-coreanos somem. Provavelmente tomam o rumo do estádio, que logo mais toma conta do telão instalado acima do palco principal da Fan Fest. A imagem, em altíssima definição, mostra a arena pintada de verde e vermelho, as cores de Argélia e Coreia do Sul. Aqui embaixo, tive sorte. Logo, um grupo de três argelinos se instala em minha frente, para acompanhar o jogo ali próximo.
No campo, vitória da seleção africana, 4 a 2. Que bom, estava torcendo por eles, tanto pela simpatia demonstrada quanto pelo entusiasmo geral da torcida verde-e-branco.

Turistas argelinos acompanhando o jogo da seleção nacional na Fan Fest: emoção estampada nas bandeiras (Reprodução/Facebook)
 
Vi gritos, vivas e certas lamentações por vezes, câmeras de TV procurando curiosos - os turistas diante de mim foram entrevistados pelo menos três vezes - e pessoas somente interessadas pelo espetáculo. Mas vi principalmente o que a paixão pelo futebol consegue inspirar nos seres humanos, residentes ou estrangeiros, independentemente de idioma. Mais ou menos como afirmou o presidente da FIFA, Joseph Blatter, em citação trazida pelo site oficial da entidade: "A Fan Fest vai continuar a ser uma parte fundamental das edições futuras da Copa do Mundo. Essa decisão foi tomada há muito tempo, e pelos próprios fãs."

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Flappy Bird: o sucesso que bateu no cano

Nas últimas semanas, e em especial há alguns dias, o vício em jogos para smartphones e tablets ganhou um novo representante: o Flappy Bird. Se você esteve longe dos principais sites de tecnologia ou mesmo sem nenhuma conexão com o mundo online, provavelmente não deve saber do que isto se trata. De qualquer forma, é uma história de amor e ódio.
De acordo com o Google Trends, o título começou a despertar interesse mundial a partir da última semana de janeiro. O game, que não dava mostras ainda de ser o sucesso que se tornou, estava numa trajetória ascendente de interesse por parte dos usuários, já que era gratuito e relativamente fácil de manusear, mas difícil de concluir.

Não quis clicar no link acima? Tudo bem, a gente mostra o gráfico para você





Neste ponto, é bom explicar como o Flappy Bird funciona, para entender o restante do post. A mecânica dele é simples, assim como o objetivo. Você conduz um pássaro da espécie 8-bits em um cenário 2D, similar ao Mario's World (aquele mesmo), e deve apertar na tela inúmeras vezes para que o mesmo se mantenha em voo. Cada toque é um impulso, e você deve deixá-lo guiar-se pela gravidade para fazer subi-lo e descer, conforme passa no meio de canos acima e abaixo dele. Encostando-se em um deles, é game over na certa.

É isto. Bonitinho, não? Fonte: Venture Beat



É claro que a ideia é fazê-lo voar o máximo possível, e cada cano ultrapassado vale um ponto. A dificuldade dele é tanta que há um esquema de "medalhas", offline até onde sei, onde vinte canos corresponde a prata e dez canos bronze (no momento desta postagem não havia passado de 29), mas claro que há ouro e até platina para os mais equilibrados.
Flappy Bird é física, pois permite controlar o voo do pássaro em relação à gravidade que quer fazer com que você bata a cabeça nos canos; é matemática, pois você deve calcular o número de toques na tela para fazer com que o animal virtual passe entre as peças; é psicologia também, por treinar o equilíbrio e concentração do jogador - é quase yoga.
E aí nos voltamos ao desenvolvedor. Vietnamita e empreendedor, o jovem Dong Nguyen virou o nome mais comentado do meio tecnológico assim, ao acaso. Seu game foi baixado por milhões de pessoas, ele primeiramente gostou do sucesso mas experimentou o gosto amargo dos 15 minutos milhões de downloads de fama. Dong sentiu-se vazio, triste e solitário. Prova de que o dinheiro é móvel, assim como as plataformas em que lançou o Flappy Bird: cinquenta mil dólares por dia, só em anúncios. E ele resolveu tirar o jogo do ar.
Seu Twitter, @dongatory, ficou lotado de usuários confusos, e que principalmente o acusavam de ter realizado uma grande jogada de marketing, além de ter recebido ameaças da Nintendo, que, por ora, justifica-se, até mesmo se fosse verdade. Os canos não são patenteados, mas são similares aos vistos na série do encanador mais famoso dos games.
Flappy Bird não está mais disponível para iOS, tampouco Android, mas usuários já realizaram façanhas para manter o jogo às luzes da Internet. Criaram páginas com os arquivos do mesmo, para download não oficial, ou criaram leilões para vender smartphones com o jogo instalado por preços absurdos.
Depois desta, Dong sumiu, e seus tweets não são mais visíveis desde o último sábado, 8 de fevereiro. De todas as formas, Flappy Bird pode ter sido um viral passageiro. Ou mesmo um bater de asas rápido de um pássaro, que voa mas não se sustenta no ar por muito tempo. Cai pela falta de forças, ou porque bate na parede da realidade; fazer sucesso no mundo virtual é sujeitar-se a todo tipo de crítica.


sábado, 25 de janeiro de 2014

3650 dias de Orkut


O ano era 2004. Em algum lugar da Índia, muito longe daqui, alguém teve uma ideia genial: criar uma rede social com o objetivo de juntar pessoas com interesses em comum. Caso alguém encontrasse afinidade com determinada ideia, podia adicioná-la ao seus interesses através das chamadas "comunidades", e acompanhar, assim como em um fórum, as postagens sobre aquele assunto. Se houvesse afinidade entre duas pessoas, a primeira "adicionava" a segunda, e, mediante um aceite desta, a primeira podia receber atualizações constantes desta em sua página principal, e vice-versa.
Não entendeu? É mais simples do que parece. Ideia simples, e foi desta forma que nasceu o Orkut.
Em agosto de 2008, escrevi um pouco sobre ele no desativado Blog Azul da Morte, o que era o máximo, pois, em seu auge - mais ou menos naquela época -, a rede social começava a receber aplicativos para integrar ainda mais seus usuários.

Nada de sites de notícias, o noticioso da internet estava no Orkut. Fonte aqui, link da matéria real aqui.

Sites assim não são novidade. Em um terreno quase totalmente dominado atualmente pelo Facebook (há controvérsias que afirmam que há concorrência, pelo menos no mundo oriental), o Orkut mostrou-se extremamente importante como ferramenta de registro histórico no Brasil. Sério, não é exagero, temos nos servidores do Google, que hospeda, com muita relutância, as inúmeras páginas, fotos, recados e depoimentos, nada mais do que uma grande amostra de tudo o que foi assunto de dez anos para cá. Com cerca de trinta e cinco milhões de usuários ativos no país no pico de sua utilização, o Orkut guarda todas estas memórias de maneira que nenhuma outra plataforma colaborativa trouxe na história da internet. Que o diga as classes C e D, que impulsionaram muito a ascensão do site à categoria citada. Inclusão digital e Orkut caminham lado a lado, até hoje.
Pois bem, em 24 de janeiro último, a rede social preferida dos HUEHUE BR BR completou dez anos. É uma década de histórias, contadas através de seus milhões de perfis, ativos ou não (por "ativos" diz-se daqueles não migrados para o Google+, natimorto). Dez anos de GIFs comemorativos, de colheitas felizes.
Para a internet brasileira, que, na época da popularização do site, ainda estava na era discada e majoritariamente dominada pelos computadores de mesa, cerca de metade do tempo.

Infográfico mostrando o poder do Orkut: isso aí em 2011, lembra?
Teve gente que ganhou um dinheiro razoável com o sucesso da rede. Mais como administrador de comunidades, em que havia anúncios patrocinados em um esquema independente gerenciado por ele próprio, mas também havia quem ajudava amantes da música através do upload de álbuns inteiros de forma gratuita - lembrança do Discografias, maior comunidade do gênero no Orkut, entre outras formas de utilização do site. As possibilidades eram infinitas.
Mesmo perdendo mais de noventa e cinco por cento de market share em três anos, o Orkut nunca perderá sua magia. Como rede social que deu vazão aos pensamentos dos brasileiros, em sua maioria, ele deve ser posicionado em destaque junto aos sites que fizeram relativa fama no Brasil. Ali, junto aos eternos seniores.

Semana que vem é a vez dos não menos importantes, e coincidentes, dez anos do Facebook, a serem comemorados, de acordo com a Wikipedia, em 4 de fevereiro próximo.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Um ano depois

Fogos de artifício em Palm Islands, Dubai (Emirados Árabes), 1º de janeiro de 2014: ano novo, novos pensamentos. Fonte: MSN

Há algumas semanas, resolvi: a Revista O Mate voltaria, ainda melhor talvez, com mais postagens e interatividade. Como isto me traria mais uma vez responsabilidades e até estreitamento de laços com pessoas que julgava de certa forma distantes, não hesitei em começar de novo. Creio que eu esteja mais maduro, focado e interessado em trazer uma visão própria de fatos que, outrora, seriam completamente indiferentes.
Em doze ou dezoito meses de hiato, o mundo mudou um pouco, e as alegrias se multiplicaram, assim como minha gratidão com relação à forma com que fui convencido a voltar a publicar postagens aqui. Hoje, até me sinto mais preparado para o desafio, de novo.
É mais ou menos o oposto do que coloquei no atualmente desativado BADM, em abril de 2010, quando o fazia, e que possuía um relativo sucesso. Acabei não colaborando comigo mesmo e a proposta inicial acabou esquecida. Da mesma maneira, é muito frágil a linha que separa o passado com o futuro desta, e somente desta página. Nunca considerei a Revista (primeira vez que chamo o blog assim) como deixada de lado; o brasileiro típico pouco escreve.
Ter um blog até fará uma diferença considerável: iniciarei a faculdade de Jornalismo na Universidade Feevale em fevereiro, e ter uma página do tipo é considerado parte do ciclo acadêmico.
Já há postagens bacanas no forno, e estarei colocando-as aqui ao longo do tempo. Talvez a Revista mude um pouco o foco das publicações, mas, a fim de ser tratado como herança, este blog preserva a identidade original. E será assim.