quarta-feira, 2 de julho de 2014

As duas rodas pedem passagem


Na busca por novos espaços para transitar nas cidades, os ciclistas buscam meios mais práticos para driblar os congestionamentos e melhorar a qualidade de vida.

Mais espaços públicos para ciclistas e melhoria dos já existentes. Estas são as principais reivindicações da população do Vale do Sinos, consciente de que muito ainda pode ser feito pelo poder público e pelos próprios moradores para garantir maior qualidade de vida aos praticantes desta atividade. O marceneiro Darlei Fröhlich, 38, morador de Dois Irmãos, é um exemplo. “Preciso ir a Sapiranga para praticar o ciclismo”, afirma. Ele, que nas horas vagas participa de um grupo de ciclistas profissionais, com sede na Cidade das Rosas, tem opinião favorável aos espaços disponíveis. “A ciclovia daqui é boa, mas penso que pode melhorar ainda mais”.


Fröhlich: “ciclovia é boa, mas pode melhorar ainda mais” (foto: Arquivo pessoal)

Em Sapiranga, também conhecida regionalmente como Cidade das Bicicletas, devido à grande proporção entre o número de habitantes e o de ciclistas em geral, nem todas as opiniões são unânimes. “De modo geral, os motoristas respeitam pouco os ciclistas”, relata o comerciante Aírton Paiva, o Nico, 44. Proprietário de uma loja que vende artigos para a prática do ciclismo na principal avenida do município, ele defende que deve haver conscientização por parte dos usuários de meios de transporte em geral. “Acho que eles [os ciclistas] também devem ter respeito no convívio com outros meios”, diz, enquanto observa a ciclovia inaugurada há dez anos, e que possui um trecho em frente a seu estabelecimento.

Para a administração municipal de Sapiranga, o apelido recebido pela cidade é motivo de orgulho, apesar da diminuição no número de ciclistas nos últimos anos. “Ser reconhecida como Cidade das Bicicletas é algo valioso, mesmo que atualmente a quantidade de bicicletas tenha mudado. Estamos trabalhando formas de voltar a incentivar o uso delas; com isso, o trânsito pode fluir melhor”, explica o Secretário Municipal de Segurança Pública e Mobilidade Urbana, Delso Ivan Civa. Ele também exalta o fato de haver estatísticas sobre o número de bicicletas em Sapiranga, algo incomum para outras cidades. “São cerca de trinta mil”, afirma, categórico. Para uma população de cerca de 78 mil habitantes, segundo estimativas do IBGE para 2013, é um número bastante considerável.

A questão também preocupa outras cidades da região. Em Novo Hamburgo, maior município do Vale do Sinos, recentemente a inauguração de uma ciclofaixa pública, por parte da Prefeitura, com 4 quilômetros e meio de extensão, ligando a Zona Sul ao Centro, foi resposta a uma solicitação antiga dos moradores. O espaço é comemorado por alguns. “Utilizo bastante a bicicleta para lazer e também para me deslocar ao trabalho. Pena que não há ciclovias em outros bairros também, pois já sofri um acidente onde não havia este tipo de opção para os ciclistas”, conta o impressor serigráfico Carlos Morais, 55 anos, morador da cidade há pelo menos trinta e cinco.


Morais: acidente trouxe preocupação para o impressor (foto: arquivo pessoal)

Para outros profissionais do trânsito, que diariamente convivem com bicicletas e demais veículos, a maior preocupação é a imprudência nas ruas e avenidas, mas pode haver um convívio saudável entre motor e pedal. “As ciclovias aumentam a segurança dos próprios motoristas”, relata o taxista Gilmar Celistre, 43, há quatro anos na função. Ele reforça que a responsabilidade por desastres pode ser tanto de uns quanto de outros. “Quase não se houve mais falar em acidentes envolvendo ciclistas e motoristas, mas, quando ocorrem, geralmente é devido ao descuido de uma das partes”, destaca.

De acordo com a diretora da DITRAN (Diretoria de Trânsito), Regina Soares, as obras da ciclovia da Av. Nações Unidas fazem parte do conjunto de melhorias trazidas com a vinda do trem ao município. Para ela, houve apoio de diversos órgãos na obra. “A construção da ciclovia faz parte de uma série de obras complementares da expansão da Linha 1 do Trensurb, solicitadas pela Prefeitura com o apoio do Governo Federal”, diz. Sobre a aceitação por parte da população, ela destaca que há acúmulo de pessoas a pé também no local, o que não é o recomendado. “[A ciclovia] acaba sendo usada de forma mista, por ciclistas e pedestres, devido à maior parte da população não ter o hábito de praticar o ciclismo”. Também estão na pauta novos projetos. “Estão previstas a construção de duas novas ciclovias, uma ligando o bairro Hamburgo Velho ao Centro, com cerca de 1300 metros de extensão, e outra na Avenida Alcântara, no bairro Canudos, de 1900 metros”.

Enquanto isso, a população aproveita o espaço disponível. “Para mim, a ciclovia diminui o risco de acidentes e atropelamentos”, completa Carlos.


Celistre: descuido de uma das partes é principal causa de acidentes (foto: Arquivo pessoal)

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(Pauta realizada em abril e maio de 2014 para a disciplina de Jornalismo da Universidade Feevale.)

ATUALIZAÇÃO - 05/01/2015- : Esta pauta concorre no 2º Prêmio Mentes Brilhantes, da Universidade Feevale, na categoria Reportagem - Impressa ou Digital. Em março sai o resultado.

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