terça-feira, 1 de julho de 2014

Orkut, o fim

Levantei-me da cadeira, confesso, quando fiquei sabendo. Sentei de novo. Fazia tempo, bastante tempo até. Meu último contato com o Orkut foi em janeiro, quando da ocasião da postagem que justamente celebrava os dez anos de nascimento da ferramenta que trouxe o conceito de redes sociais para o Brasil. Mas desta vez, a ocasião é outra. E bem mais confusa.
O Orkut, claro, revolucionou. Com ele, você que tem contato com a internet há mais de cinco anos certamente jogou, leu, escreveu depoimentos, scraps, criou seu avatar no BuddyPoke, enfim, contribuiu para esta massa de ideias e sentimentos que dominou o país, e só. Em nenhum outro lugar o donut rosa provocou tanta paixão.
Dava pra imaginar a web sem o Orkut? Sim, claro que dava. Mas provavelmente muitos tiveram seu primeiro contato com a interwebs lá, e sem rodeios. Lembro da época em que tinha cerca de doze anos e o sonho de consumo era ele. Aquele site, onde só com convite entrava. Como uma festa 212 VIP, exatamente para poucos, privilegiados.
Como qualquer festa para adolescentes, tem uma hora em que o DJ procura variar os ritmos, alcançar um tom nostálgico, agradar a todos igualmente. O Orkut cresceu, multiplicou-se, liberou inscrições sem a necessidade do ingresso antecipado, visou o Brasil numa época em que smartphones ainda era para poucos, iPhone então, talvez nem existisse. Na proa da revolução digital, de certa forma a inovação. Justifica-se, até hoje há certo fascínio em redes sociais ou serviços em que é necessária pré-inscrição (obrigado por lembrar neste momento do Google Glass).
Tá, mas se o Orkut era bom, por que era bom? Justamente, cansou. Mas tenho algumas ideias:

Cessou a inovação: pioneiro da criação e manutenção de comunidades, que de certa forma davam aquele ar de superioridade ao arrendatário (muitas comus eram mantidas pelo perfil <nome da comu> Oficial), além de liberdade de censurar ou não opiniões, recados individuais e até pirataria controlada (já falei do Discografias no outro post), o Orkut simplesmente parou de receber ideias por parte de seus desenvolvedores. Sem um canal oficial de atendimento ao usuário - como quase tudo no Google -, ficava difícil saber o que o orkuteiro gostaria de ver na rede social.

Concorrência acirrada: lembre-se que, de tão inovador, o Facebook já virou livro, filme e ação na Nasdaq. A grande sacada foi fazer sucesso no mundo inteiro, e, por isso mesmo, começar a ter moral aqui depois.

O mobile é seu inimigo: deve ter sido isso que o Google pensou. O Orkut no celular nunca daria certo, e não deu mesmo. Quem afirmam são os usuários do app oficial para Android (Atualização: ex-app. Ele já foi retirado da Play Store, então, o link anterior é o do Web Archive), e dá pra entender o tamanho do público que NÃO foi atingido com isto.

Perda de espaço para novas ferramentas: como o Google+, que passou a ter toda a atenção e o mínimo de usuários ativos.

As causas são variadas, mas agora já não há solução. O Orkut virou estorvo para o Google, e para a internet em si. O blog dele, inativo desde 2012, voltou a ser utilizado. Para enterrar o já falecido, talvez. Para liberar espaço nos servidores em Mountain View, ou em Belo Horizonte. Ou então, somente para deletar nossas lembranças por lá.

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