sexta-feira, 27 de junho de 2014

Entrevista: André Haar

André Haar: jornalista fala aos alunos da Universidade Feevale (Foto: Divulgação - Eduarda Neves/Facebook)

Poucos nomes são tão respeitados no cenário jornalístico do Rio Grande do Sul como o do porto-alegrense André Haar. Atualmente com 44 anos, iniciou a carreira na Rodoviária de São Leopoldo, de onde veiculava informações diariamente sobre as partidas dos ônibus. Sua ambição levou-o a migrar para a Rádio União FM, após divulgar informações inéditas sobre um desaparecimento ocorrido na Serra Gaúcha, e o qual ele conduziu uma investigação independente.
Mas Haar não estava satisfeito. O ápice de seu trabalho ocorreu na televisão, onde iniciou em 1991, no extinto Jornal do Rio Grande, pela TV Bandeirantes. Passou ainda por Canal Rural, RBS TV - onde foi o âncora do Jornal do Almoço e RBS Notícias - e TV Record, onde está desde 2007. No momento, apresenta o telejornal Rio Grande no Ar, nas manhãs no canal 2 de Porto Alegre.
Graduado em Jornalismo pela Feevale, e vivendo há trinta anos em Novo Hamburgo, Haar retornou nesta quinta-feira à sala de aula da mesma universidade, mas desta vez para uma conversa informal com este blog. Confira:


Como é lidar com a emoção no jornalismo?
Costumo dizer que tenho grande carga de adrenalina. Já enfrentei situações em que tive de cobrir tragédias, como em Santa Maria [em 2013, o incêndio na Boate Kiss] e o Caso Bernardo [Bernardo Boldrini, de 11 anos, foi morto e enterrado no interior do Rio Grande do Sul, em abril de 2014. O pai e a madrasta são os principais suspeitos do crime], mas lido bem com a situação. Fiquei com os olhos cheios d’água em algumas situações, mas só.


E com as críticas ao seu trabalho?
Meu trabalho é diário, ou seja, preciso ser a voz da sociedade no momento em que sou exigido; as críticas fazem parte do processo. Claro que muitas vezes erro, mas, no fundo, me dói um pouco, mesmo que às vezes não as aceitamos.


Como você define o estilo de jornalismo de seu programa?
Meu jornal é apresentado no horário do café da manhã, num horário em que as pessoas, muitas vezes, ligam a televisão mas estão prestando atenção em outras atividades em casa. Procuro manter o foco nas manchetes das notícias, pois, com uma manchete bem elaborada, por vezes a atenção do telespectador pode ser direcionada.


Como o índice de audiência influencia seu trabalho?
A audiência é muito importante, medimos a todo momento durante o jornal. Por várias vezes empatamos, ou até ultrapassamos a RBS TV no mesmo horário. Se alguma notícia que estou apresentando faz o IBOPE subir, sou orientado pelo editor-chefe, no ponto eletrônico, a realizar comentários sobre ela no ar.

Qual foi o momento mais marcante de sua carreira, na sua opinião?
Sem dúvida quando eu estava em Jerusalém, um dia após os atentados de onze de setembro de 2001. Viajei a serviço da RBS TV, e acompanhava uma excursão de prefeitos do Vale do Sinos, em visita a Israel. Liguei para minha editora-chefe e disse que havia feito umas imagens de manifestações na região e coletado algumas entrevistas, mas achei que não seria nada importante. Depois de dez minutos, ela me ligou de volta, e perguntou se eu havia levado terno e gravata, que eu faria uma pauta para o Jornal Nacional. Foi algo extremamente marcante para mim, pois sempre sonhei em apresentá-lo.


Quais são suas referências jornalísticas?
Sempre admirei muito o trabalho do Cid Moreira e do Sérgio Chapelin, por eles serem justamente âncoras do Jornal Nacional [de 1972 até 1983]. Quando conheci-os na Globo, em São Paulo, foi para mim um grande momento.


Você se considera melhor repórter ou apresentador?
Não sou repórter, não gosto de fazer reportagens. Gosto de apresentar as notícias.


Quais as principais diferenças em relação ao jornalismo praticado pela Record e pela RBS?
A principal diferença é que, na Record, há mais informalidade, deslizes podem ser retificados mais tarde. Na RBS, gafes são menos toleradas.


Você tem algum recado para os futuros jornalistas?
Acredito que as pessoas vencem na vida não por sorte, mas sim por competência própria. Indivíduos que não pensam assim costumam ter o hábito da idealização, que é a criação de um objetivo na vida a partir das expectativas dos outros. Por exemplo, quando seus pais afirmam que você irá se graduar naquilo que eles querem, e não se baseiam em suas opiniões pessoais.
Muitos estudantes ingressam na faculdade de Jornalismo para tentarem ser famosos, ou conseguir fama e sucesso. Meu recado é: se você imagina desta forma, é melhor nem tentar a graduação.


Você é feliz fazendo o que faz?
Sim, sou muito feliz, o jornalismo é minha vida. Sempre quis fazer o que faço hoje.

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